Conhecida internacionalmente comouma das regiões mais produtivas do planeta, o grande oeste catarinense – berçoda avançada agroindústria brasileira – vem sofrendo, nas últimas décadas,preocupantes mudanças e transformações. Enfrentá-las é o maior desafiocontemporâneo.
Apesar de todos os esforçosgovernamentais e do setor privado, o êxodo de talentos e capital humano dogrande oeste catarinense não foi estancado. Não cessou o fenômeno dalitoralização, com a incessante migração da população regional para as cidadescosteiras. Recente estudo da Unoesc revela que o êxodo, o envelhecimento e aredução populacional ameaçam o futuro do oeste. A população jovem estáreduzindo velozmente e a população de idosos aumentando, a economia perdedinamismo e as carências infraestruturais afugentam novos empreendimentos. Ooeste apresenta tendência para um crescimento vegetativo ou até mesmo para umaqueda da população total nos próximos anos, fundamentada na queda das taxas denatalidade e na migração para outras regiões do estado, principalmente para oVale do Itajaí e Grande Florianópolis.
Uma das consequências desseprocesso é a escassez de mão de obra para importantes áreas da economia, como aindústria de processamento de carnes, construção civil, serviços e comércio. Asituação tornou-se tão dramática que não restou outra opção senão a contrataçãode imigrantes e o aumento do emprego da automatização das linhas de produção.
Outro desafio titânico é aredução das deficiências infraestruturais. Isso inclui ampliar a oferta de energia elétrica mediante amelhoria das redes de distribuição nos parques industriais, nas zonas rurais enas cidades; ampliar o sistema decaptação, tratamento, armazenagem e distribuição de água; melhorar os serviçosde internet e telefonia celular e, fundamentalmente, investir fortemente nainfraestrutura de transportes.
As rodovias do grande oeste, poronde transitam diariamente milhões de dólares em riquezas exportáveis,necessitam urgentemente de recapeamento, duplicação ou construção da terceirapista.
As deficiências de logística detransporte potencializam dois problemas a questão geográfica (a agroindústriado oeste catarinense está longe dos grandes centros de consumo) e a questão dainsuficiência do principal insumo (milho e farelo de soja). Santa Catarinaimporta mais de 2 milhões de toneladas desses grãos por ano, do centro-oestebrasileiro, região distante cerca de 2.000 quilômetros. São necessárias mais de50 mil viagens/ano a um custo financeiro de 5 bilhões de reais, sem mencionar oscustos humanos e ambientais.
Essa operação está se tornandoinviável e estimulando os grupos agroindustriais catarinenses a transferiremsuas unidades de produção para Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O custode transporte inviabiliza grandes empreendimentos do agronegócio catarinense.Sabemos que o transporte rodoviário para longas distâncias e grandes volumesnão se sustenta no longo prazo pelo seu componente de custos.
A solução é a ferrovia para uniros dois pólos – levando o alimento industrializado para as grandes cidades etrazendo, principalmente, milho e soja. O grande oeste catarinense corre orisco de perder sua competitividade pela alta dependência dessa matéria prima.O transporte ferroviário é a alternativa viável para baratear custos detransporte e o custo final dos produtos. Na situação em que nos encontramos,cada vez mais os custos de transporte terão um peso maior no preço final dosprodutos.
Não é necessário mencionar apesada carga tributária, mas o conjunto desses percalços – dada a importânciaeconômica e geopolítica do grande oeste catarinense – justifica a formulação deuma política governamental de apoio aodesenvolvimento dessa região. Redução de impostos, incentivos fiscais emateriais e parcerias público-privadas poderiam mitigar a perda decompetitividade.
Para assegurar o futuro do grandeoeste barriga-verde é necessário reverter esse deletério processo e estimularconcretamente a expansão das empresas instaladas no oeste e a atração de novosempreendimentos.
Mário Lanznaster
Presidente da Coopercentral Aurora Alimentos