Uma das ferramentas importantespara diagnosticar o estado nutricional das plantas é a análise foliar. Paraisso, é necessária uma boa amostragem para que a interpretação dos resultadosidentifique a ocorrência de desbalanços nutricionais e, até mesmo, toxicidadede nutrientes. Os métodos mais utilizados são a faixa de suficiência e oSistema Integrado de Diagnose e Recomendação (mais comumente denominado comoDRIS).
O pesquisador da EmbrapaAgropecuária Oeste (Dourados, MS) Carlos Hissao Kurihara conta que, por muitotempo, foi adotada uma tabela única para interpretar as faixas de suficiênciasde macro e micronutrientes na cultura da soja, “independente do fato da amostrade folhas ser constituído apenas pelo limbo foliar ou pelo limbo foliar com opecíolo”, explica.
Recentemente, os pesquisadoresCarlos Hissao Kurihara e Luiz Staut, ambos da Unidade de Pesquisa da Embrapa emDourados, verificaram que alguns nutrientes, como nitrogênio, fósforo eenxofre, estão mais concentrados no limbo foliar, enquanto o potássioencontra-se em maior concentração no pecíolo. “Desta forma, os teores dessesquatro nutrientes podem variar consideravelmente na amostra coletada no talhãoda fazenda, dependendo do fato da mesma ser constituída apenas pela folha, outambém pelo pecíolo”, explica Kurihara.
Em um projeto, os pesquisadoresdemonstraram que havia uma margem para a ocorrência de equívocos no diagnósticodo estado nutricional da soja, pelo método das faixas de suficiência (ou faixade teores adequados), já que os teores dos quatro nutrientes eram interpretadosa partir de uma única tabela, independente do tipo de amostra de folhacoletada.
Em 2006, foram estabelecidasnovas faixas de suficiência para macro e micronutrientes, específicas paraamostras de limbo foliar e também para amostras constituídas por limbo foliarmais o pecíolo. “Estas faixas de suficiência tinham como vantagem serestabelecidas para as condições de solo, clima e potencial produtivo de MatoGrosso do Sul e Mato Grosso”, afirma Kurihara.
Outra vantagem é que as novasfaixas se diferenciavam das faixas de suficiência adotadas anteriormente, porpossuírem menor amplitude entre o limite superior e o limite inferior da faixade suficiência; isto permite maior exatidão no diagnóstico do estadonutricional da cultura da soja. Em 2013, este mesmo grupo de pesquisadoresestabeleceu novas faixas de suficiência para a soja, para as condições de MatoGrosso do Sul e Mato Grosso. “A amplitude dos valores é ainda mais estreita.Com isso, é possível melhorar ainda mais o análise foliar”, afirma Staut.
Coleta de amostras
Para realizar a análise foliar, oextensionista deve proceder à coleta de amostras de folha segundo os critériosde época e tipo de amostras de folha estabelecidos para a espécie vegetal quese deseja analisar. “No caso da soja, indica-se a coleta, no estádio defloração plena, do terceiro trifólio completamente desenvolvido, acompanhado ounão do pecíolo, tendo-se em vista que há como realizar o diagnóstico do estadonutricional destes dois tipos de amostra”, relata Kurihara.
Outro aspecto levantado pelospesquisadores é que em cada talhão da propriedade, o extensionista deve coletaramostras de folhas em cerca de 15 a 30 plantas. Kurihara salienta que, paracultivares com crescimento indeterminado, ainda há necessidade de maispesquisas sobre a época de amostragem e a localização da folha na planta maisadequada para a diagnose do estado nutricional.
Boas Práticas para Uso Eficiente de Fertilizantes
Para elevar a eficiênciaagronômica dos fertilizantes e minimizar eventuais impactos ambientais, as BoasPráticas para Uso Eficiente de Fertilizantes (BPUFs), ou o manejo adequado dafertilidade do solo, devem ser adotadas. As boas práticas variam devido aalguns fatores, como o tipo de solo predominante na região, do histórico daárea e do sistema de manejo do solo e do sistema de produção adotado.
No caso do fósforo, a correção érealizada gradualmente devido ao elevado custo do adubo fosfatado. Além disso,a correção gradual diminui a perda da eficiência do adubo fosfatado emdecorrência das reações de adsorção e fixação que ocorrem no solo.
Estudos realizados pelopesquisador Kurihara, na Embrapa Agropecuária Oeste, indicaram que, em um prazode três safras de soja, em Sistema Plantio Direto (SPD), o uso de uma fontesolúvel de fósforo, como o superfosfato triplo, aplicado anualmente na linha desemeadura da soja, resultou em um efeito residual médio de apenas 12 % donutriente aplicado.
“O restante ficou retido no solopor meio de reações de adsorção e fixação, ou então foi imobilizado pelosmicro-organismos e em formas orgânicas diversas; outra parte do fósforoaplicado também foi extraído pela soja e exportado pelos grãos”, relata. Oefeito residual foi ainda menor quando o fósforo foi aplicado em grande parteno primeiro ano de cultivo, uma vez que a fixação deste nutriente no soloaumenta com o tempo de contato do mesmo com o solo.
Considerando os resultados dessamesma pesquisa, Kurihara ressalta que a elevação da disponibilidade de fósforoem um solo muito argiloso, “em 1 mg/dm³, avaliado pelo extrator Mehlich-1, nacamada de 0 a 10 cm de profundidade, há a necessidade de se aplicar algo emtorno de 43 kg/ha do adubo superfosfato triplo, na linha de semeadura da soja.Caso a disponibilidade de fósforo no solo seja avaliada pelo extrator Resina,então haverá a necessidade de se aplicar cerca de 25 kg/ha de superfosfatotriplo para a elevação do teor de P em 1 mg/dm³”.
Manejo sucessão soja/milho safrinha
Resultados de pesquisas emandamento, realizadas por Carlos Kurihara e Gessí Ceccon, demonstram que, emsolos com elevada disponibilidade de fósforo e potássio, é possível adequar omanejo da fertilidade do solo, para atender outras demandas. “Pode ser aplicadotodo o adubo previsto para o sistema de produção constituído pela sucessãosoja/milho safrinha, no cultivo da gramínea, sem que haja prejuízos naprodutividade da leguminosa”, exemplifica Ceccon.
Kurihara cita outro exemplo:“Também se pode efetuar a distribuição antecipada do adubo previsto para acultura da soja, algum tempo antes da época de seu cultivo. Em ambos os casos,tem-se como vantagem a agilização do processo de semeadura da soja”. Elesalienta, porém, que a alta disponibilidade de fósforo e potássio é umrequisito básico, mas não suficiente, para a decisão sobre adequações no manejoda adubação no SPD.
“É muito importante que haja, domesmo modo, adequada manutenção da cobertura vegetal, que permita a reciclagemde potássio e outros nutrientes; a minimização de eventuais perdas denutrientes por erosão hídrica; a manutenção de um intervalo hídrico ótimo porum período mais prolongado, com a consequente continuidade do fluxo difusivo defósforo; e a promoção da atividade da micro, meso e macrofauna, favorecendo aimobilização de fósforo na biomassa microbiana, o transporte de fósforo epotássio pelas galerias dos organismos no perfil do solo”.
Fonte: Embrapa